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AGO
18
18 AGO 2013
Encontrada em praça de Camaquã Cruz Jesuíta de 300 anos
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Um objeto sagrado, forjado há cerca de 300 anos e dado como perdido, repousava anônimo numa pequena Praça de Camaquã. Mas o conhecimento e a curiosidade dum doutor em Teologia da Pontifícia Universidade Católica (PUC), nascido em Tapes e criado em Camaquã, desenterrou a peça, símbolo de um dos períodos mais marcantes da formação do Rio Grande do Sul: a colonização pelos padres jesuíticos espanhóis da atual região dos Sete Povos das Missões, habitada à época pelos índios guaranis. Isso foi entre os séculos 17 e 18.

A forma como a Cruz Jesuítica, que ornamentou o topo do campanário do templo da redução de São Miguel das Missões, veio parar em Camaquã ainda é desconhecida e talvez continue para sempre sem uma explicação definitiva. Ao contrário da autenticidade da Cruz, feita em ferro fundido. “É ela”, afirma Édison Hüttner, que além de doutor e professor de Teologia, coordena os estudos sobre Arte Sacra Jesuítico-Guarany da mesma PUC. Foi Hüttner, em uma visita à cidade onde mora a família, que em 2010 teve a atenção chamada pela peça, escondida dentro da gruta cravejada de pedras onde são feitas preces e acendidas velas na Praça Santa Cruz. Ele estava com o irmão Eder, morador de Camaquã e membro do grupo de pesquisas de Arte Jesuítica do Estado.

A apresentação oficial da descoberta foi feita neste sábado (17), no Cine Teatro Coliseu, com a presença dos irmãos Hütner, da coordenadora do Centro de Microscopia da PUC, Berenice Dedavi, da secretária municipal da Cultura, Marla Crespo e do prefeito de Camaquã, João Carlos Machado. A solenidade, aberta e encerrada ao toque e interpretação de canções missioneiras por Luis Otávio Silva, o Faustinho, foi marcada pela empolgação do achado, mas sobretudo pelo respeito à presença no local do símbolo religioso.

“Eu não tenho dúvidas de que Deus tem sido sempre generoso com Camaquã, com nosso povo; assim como não tenho dúvida de que essa Cruz Santa veio parar aqui, há tanto tempo, para abençoar a nossa terra, para nos dar energia”, comentou em tom comedido o prefeito de Camaquã, o qual decidiu, no início deste mês, que a cruz seria registrada em cartório como pertencente ao acervo patrimonial do município.

No seu primeiro contato com a cruz, Hüttner se fixou numa inscrição na sua haste horizontal: em letras cinzas, se lia HSPN. De volta a Porto Alegre pesquisou a sigla e concluiu que as letras eram usadas nos meados do milênio passado para abreviar Espanha (o H é de Hispania em Latim). A informação o fez ter a plena sensação de ter encontrado um tesouro. Mas isso não bastava, era preciso a comprovação. Nas pesquisas de biblioteca e de campo (viagens foram feitas às Missões), até os arquivos secretos do Vaticano foram consultados. Uma litografia (desenho transformado em gravura em óleo) de 1846, assinada pelo francês Alfred Demersay e que mostra a cruz no alto do templo em São Miguel, provavelmente atingida por um raio, foi outro grande passo para confirmação. Em maio deste ano, após apresentar a descoberta à secretária municipal da Cultura e Turismo, Marla Crespo, Hüttner se reuniu com o prefeito, de quem conseguiu a autorização para desenterrar a cruz. Com bom humor, ele lembra as palavras ditas por João Carlos à secretária da Cultura e Turismo: "Façam o que o que tiver que ser feito, o que o professor desejar". Submetida depois a uma precisa medição, se concluiu que as dimensões do objeto de ferro de 2,5m x 1m batiam exatamente com as da litografia.

Além da comparação dimensional, foi retirado da cruz material para análise.  Examinado por um microscópio de varredura do Centro de Microscopia e Microanálise da PUC, se teve a certeza que o material é o mesmo encontrado nas peças fundidas nos fornos da Redução de São João, onde um padre alemão utilizava a técnica da forja trazida da Europa. “São os mesmos elementos”, sentencia a professora Berenice Dedavi, que coordenou o serviço.  

Ciclo da erva mate

Sobre como a peça veio parar na praça do Bairro Centenário, o professor que estudou e transformou em livro a vida do padre Hildebrando de Freitas Pedroso, primeiro pároco de Camaquã entre 1856 e 1861, tem uma forte confiança que isso tenha a ver com o ciclo da erva mate dos séculos 18 e 19. A região de Camaquã era forte produtora da erva, que se constituía na principal fonte de tributos de Camaquã e da região à época. “Talvez numas dessas viagens algum transportador daqui tenha a achado em meios às ruínas ou mesmo comprado e tenha resolvido trazer”, sugere Hüttner. Originalmente, no entanto, a cruz foi instalada num local próximo de onde hoje está – provavelmente onde hoje está a caixa d’água da Corsan ou no terreno onde se localiza um tradicional açougue.do bairro “É fato que quem a colocou ali sabia do seu valor religioso”, diz o pesquisar, que já tinha achado na década passada dois anjos feitos de arenito em Passo Fundo. As peças eram também da Igreja de São Miguel. A Cruz de Camaquã deve ter sido colocada na gruta onde está em 1959, quando foi fundada a Praça Santa Cruz.

Peregrinação

Em sua fala, na solenidade de sábado, Marla Crespo falou que a descoberta se constitui num valioso presente de aniversário de Camaquã, que em 2014 completa 150 anos de fundação. Ela comentou que os próximos passos agora serão o de levar o assunto ao Instituto do Patrimônio Histórico e Cultural Nacional (Iphan) para que seja atestada oficialmente a sua autenticidade. Paralelamente, o governo municipal começa a estudar um local para que a cruz, agora guardada em local seguro do município, seja instalada e visitada. Pela importância do símbolo, o prefeito acredita que haverá grande procura de camaquenses e de turistas à cruz assim que ela esteja num local público e definido.    

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O que é?

Cruz Missioneira – umas das duas de ferro feitas (ou trazidas) pelos padres jesuítas no Rio Grande do Sul entre os séculos 17 e 18.

As Missões Jesuíticas

Entre 1550 e 1750, cerca de 1milhão de indígenas viveram sob a orientação dos Padres Jesuítas. Além da convivência fraterna, trabalho comunitário e divisão de bens, eles viveram a experiência da evangelização, o aprendizado de artes e ofício, a prática da agricultura e pecuária e outros.

A Redução de São Miguel das Missões (ou do Arcanjo)

Em 1697 a Redução (ou povoado) de São Miguel foi dividida, indo 2.832 pessoas fundar a redução de São João Batista. Em 1707 possuía 3.110 habitantes. A igreja em que estava a cruz foi obra do padre João Batista Primoli, que de 1735 a 1744 a levantou empregando somente operários indígenas.

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